As vantagens do rigor metodológico
Ter métodos, ferramentas e tecnologias que ajudem a apresentar os fatos provocando a discussão em cima de uma realidade não percebida até então, é uma das formas de focar em uma ação visando o diagnóstico correto, e torna-se a ação mais aconselhável e eficaz para gerar alternativas para resolver um determinado problema.
Quando falamos de fatos na verdade estamos falando em dados e informações. O formato escolhido para apresentar os dados e as informações que considerarmos relevantes é tão importante quanto o próprio conteúdo, pois a sua eficácia está diretamente relacionada com a capacidade de interpretação dos indivíduos e isto depende da pessoa ou do perfil das pessoas que constituem o público alvo.
Embora exista consenso que gráficos, quadros e tabelas sintetizam, de maneira simples e até intuitiva, informações relevantes e complexas facilitando a sua compreensão, nem todas as pessoas e os seus cérebros funcionam igual, portanto, a escolha torna-se relevante e merece atenção.
A “manipulação” da informação
O outro lado da moeda é muito bem apontado por Henry Hazlitt, economista, autor do livro “Economia em uma única lição”, que chama a atenção para o fato de que as pessoas costumam apresentar apenas os dados e informações que são do seu interesse naquele momento, deixando de lado a objetividade, no que poderia ser chamado de “manipulação de resultados”. Entretanto, a “manipulação” de dados e resultados não é apenas uma consequência de uma ação proposital. As pessoas tendem a apontar os argumentos a favor da sua ideia preconcebida e “escondem” – as vezes até inconscientemente – o outro lado da equação.
Ao iniciar uma pesquisa devemos estar predispostos a tomar todas as medidas possíveis para evitar essa armadilha, obter e processar os dados, gerar informações e analisar os resultados de forma imparcial e objetiva, sempre considerando a possibilidade que estes revelem um resultado que, a princípio, pode não ser de nosso agrado. Planejar corretamente a pesquisa é o primeiro passo para evitar tal armadilha.
Interpretando dados e informações
O que fazer então, diante deste cenário, quando somos o alvo, o receptor, de dados e informações apresentados por terceiros?
Todos acompanhamos as discussões sobre “fake news”, inclusive com desdobramentos legais que estão sendo desenvolvidos não apenas no Brasil mas, em escala global. A pergunta que não que calar é: regulamentos e normas podem impedir este fenômeno? Particularmente, até o presente momento, estou convencido que não. Então, como fazer para determinar em que dados e em que informações podemos confiar?
Posso apenas sugerir alguns caminhos: primeiro, tenha consciência que a decisão de confiar ou não no dado ou informação recebido é exclusivamente sua – não terceirize a responsabilidade da avaliação que gera credibilidade; a seguir, desenvolva um método de verificação criando um “catálogo” de fontes confiáveis e de fontes que sistematicamente se revelam pouco confiáveis; terceiro, revise periodicamente os critérios da recomendação anterior.
O enorme volume de dados e informações a que estamos expostos é de tal magnitude que não será possível trilhar este caminho sem o emprego de hardware (equipamentos) e software (aplicativos) que auxiliem nesta tarefa. Ficar proficiente no emprego delas é necessidade reconhecida, embora acredito que não seja condição suficiente. Entretanto, na grande maioria das empresas, o nível de “informatização” ou, para usar outro termo, o grau de digitalização do ambiente profissional, e não apenas no Brasil, é extremamente baixo. Fora dos ambientes profissionais então, esta carência de competência se aprofunda mais ainda.
Raciocínio analítico
O raciocínio analítico é uma competência que se desenvolve desde que nascemos. É através dele que aprendemos. O empregamos para produzir resultados consistentes e previsíveis.
Adquirir e aprimorar a competência analítica exige esforço e treino. A matemática, entre outras áreas do conhecimento, tal vez seja a que mais estimula este desenvolvimento e fornece ferramentas que, em suma, denominaremos “método científico” para fazer análise de dados e informações. Para não alongar muito este texto, a contraposição disto é a “opinião sem sustentação factual”.
A crença de que tudo mundo tem direito a uma opinião – premissa que estimo verdadeira – e que tal opinião não precisa de ter que estar alicerçada em fatos para ser respeitada pelos outros – premissa que estimo ser falsa – é um fenômeno moderno e uma consequência não intencional da adaptação do ser humano ao acesso a um número quase infinito a dados e ao processamento deles a velocidades nunca antes experimentadas, oportunidade fornecida pela evolução tecnológica da eletrônica, pela TI e pela tecnologia de telecomunicações.
Some-se a isto a inocultável rejeição pelo conhecimento de matemática expressado largamente por grande parte da população e decorrente das falhas dos sistemas de ensino fundamental.
Em suma, o cenário acima nos apresenta um ambiente em que há poucas pessoas com a capacidade necessária para explorar em toda a sua profundidade a informação disponível, perdendo então oportunidades e eficácia na tomada de decisão.
Planejamento e implementação – controle da execução
Ao planejarmos alguma atividade, uma das tarefas a fazer é a de estabelecer que dados serão coletados e como eles serão processados, durante a implementação do plano, para obtermos informações que indiquem se os resultados esperados estão de fato acontecendo e, caso se verifique alguma disparidade, poder tomar medidas corretivas que permitam refazer o plano e continuar com a implementação até atingir o objetivo.
É nesta fase que empregamos toda a nossa competência analítica para interpretar dados e informações. Um dos motivos pelos quais há uma rejeição bastante generalizada a planejar de forma sistemática é a incapacidade de empregar raciocínio analítico por meio da interpretação e informações para fazer o controle da execução. Isto explica, por exemplo, porque 70% dos Planos Estratégicos nas empresas não atingem os seus objetivos.
Como desatar o nó
O desenvolvimento das competências de raciocínio analítico é possível e pode acontecer em três dimensões diferentes:
- Pelos governos reforçando o aprendizado e este desenvolvimento principalmente ao longo do ensino fundamental;
- Nas empresas, promovendo treinamentos específicos e avaliando o desenvolvimento nestas competências ao longo do tempo. Exige que os seus dirigentes concordem em que desenvolver estas competências é importante para a organização e reconhecer que é difícil encontrar esta competência já desenvolvida nas pessoas no mercado;
- Pelos indivíduos, exige tomar consciência da situação, reconhecer o déficit nesta competência e começar a desenvolver e aprimora-la por meio de exercícios, treinamentos, cursos e eventualmente contando com a ajuda de um coach.
Perfil do Autor
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Sócio Diretor da IRON Consultoria
Foi Presidente do IBCO-Instituto Brasileiro dos Consultores de Organização e Delegado diante do ICMCI; é sócio Diretor da IRON Consultoria; foi Professor da Escola de Negócios da Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo.