Análise e Decisão O processo de aprendizado ao executar a solução a problemas

Os métodos e técnicas empregados na análise e solução de problemas conforme a metodologia que propomos na IRON Consultoria – resumidamente o PDCA – além de ser um processo de planejamento e replanejamento inserido num contexto de melhoria contínua, é um processo de aprendizado. Ao abordar as questões que envolvem a análise e o processo de decisão no contexto da metodologia de solução de problemas, inicia-se a imersão num novo ambiente ou paradigma do qual até o momento, nos artigos publicados recentemente, pouco foi abordado: o processo de aprendizado de qualquer ser humano.

 

Análise

Invariavelmente, ao tentar compreender e/ou explicar o significado de conceitos relevantes para a gestão, recorremos ao conceito de processo. Análise, então, é um processo mental que exige e se complementa com algumas atitudes comportamentais específicas. Envolve a identificação e a subdivisão lógica do problema sob análise em partes, descobrir a seguir, para cada uma delas, por meio de obtenção de dados e seu processamento usando técnicas e metodologias específicas para gerar informações, qual é a sua influência, impacto ou contribuição isolada na geração do fenômeno definido como problema para, posteriormente juntar todas as partes estudadas num novo conjunto lógico que consiga explicar as relações de causa e efeito.

O resultado da análise não é a solução em si, é apenas uma hipótese que precisa ser testada. Este “teste” constitui-se na execução da solução proposta, que requer acompanhamento dos resultados que confirmarão ou não a hipótese levantada.

A análise pode revelar mais de uma alternativa de solução. De fato, isto pode causar incerteza, que existe tanto quanto por causa das soluções propostas serem desconhecidas até então quanto pelo número de alternativas geradas. Enquanto não se testa se as hipóteses levantadas são verdadeiras ou falsas, as diversas alternativas possíveis exigem uma tomada de decisão, no mínimo, quanto a qual das alternativas propostas será testada primeiro. Por trás desta realidade desenvolve-se um outro conceito, que abordaremos em outro artigo, que é o conceito de risco.

 

Decisão

A tomada de decisão é a atitude que nos move para a ação. Qualquer ação que se venha a executar é fruto, de alguma maneira, de uma análise prévia. Feita de forma superficial ou de forma profunda, feita de forma intuitiva ou de forma científica (empregando a metodologia científica que se baseia em dados e informações), o fato é que toda ação é decorrente de uma decisão fruto de um processo de análise prévio.

Algumas questões relevantes precisam ser apontadas.

  1. Toda decisão é de uma pessoa específica. As empresas não decidem, alguém com poder suficiente dentro dela decide. As máquinas não decidem, alguém as programou para decidir. Os governos não decidem, alguém com poder suficiente dentro dela decide. Então toda decisão é fruto da ação humana.
  2. Costumo afirmar que a maior parte das nossas decisões são tomadas com “a boca do estômago” antes do que com a “cabeça”. Ou seja, as emoções jogam um papel que não pode nem deve ser subestimado ao estudar o processo de tomada de decisão. Podemos afirmar, entretanto que, tomar decisões pura e exclusivamente já seja com a emoção ou, no outro extremo, apenas com a razão, não garante melhores decisões nem é uma situação que faça parte da realidade. Toda decisão tem um componente emocional e outro racional sempre.
  3. O processo de decisão é um ato voluntário. Toda pessoa pode decidir não decidir.
  4. Não decidir, tido como ato voluntário racional, é também uma decisão e pode ser tão eficiente e eficaz, em determinadas circunstâncias, quanto a de tomar uma decisão a favor de uma ação específica. Entretanto, em determinadas circunstâncias, pode ser apenas parte de um processo de omissão gerado por negação. Difícil, para o observador externo, é distinguir uma da outra.
  5. Neste contexto então, não existe a explicação lógica, usada com alguma frequência, em termos de “não tinha outra alternativa”. Sempre há ao menos um par de alternativas: decidir ou não decidir. Nesses casos a frase pode ser melhor interpretada como sendo que a alternativa escolhida era a que apresentava melhores condições para conviver posteriormente com o resultado desta tomada de decisão ou, vista desde a outra ponta da tomada de decisão, a pessoa não estava disposta a assumir as consequências que se produziriam com a decisão alternativa. Em tudo caso, toda decisão produz efeitos futuros com os quais devemos estar dispostos a conviver e a assumirmos que foi o resultado do exercício voluntário de uma tomada de decisão pessoal e livre.

Aprendizado

Aprender é uma palavra que no contexto deste artigo precisa ser definida. Aprender é “ ..  passar a ter conhecimento, cognição, sobre; instruir-se (por ex.: aprender inglês); associado à ação humana“. Aprendizagem é o processo que permite que se aprenda.

Dado o grau de desconhecimento que ainda temos sobre o funcionamento do cérebro, não é difícil compreender por que existem tantas teorias sobre o processo de aprendizagem. Mesmo assim, a Taxonomia de Bloom é a que escolhemos para explicar este processo. Há muita literatura a respeito deste tema e da Taxonomia de Bloom que sugiro que sejam consultados. Uma introdução rápida ao conceito pode achar-se em https://pt.wikipedia.org/wiki/Taxonomia_dos_objetivos_educacionais .

Trata-se de uma é uma estrutura de organização hierárquica de objetivos educacionais que divide as possibilidades de aprendizagem em três grandes domínios: o cognitivo, abrangendo a aprendizagem intelectual; o afetivo, abrangendo os aspectos de sensibilização e gradação de valores, e; o psicomotor, abrangendo as habilidades de execução de tarefas que envolvem o aparelho motor.

Cada um destes domínios tem diversos níveis de profundidade de aprendizado. Por isso a classificação de Bloom é denominada hierarquia: cada nível é mais complexo e mais específico que o anterior. O terceiro domínio não foi terminado, e apenas o primeiro foi implementado em sua totalidade. As figuras a seguir ilustram o processo sugerido.

Este conceito, que merece uma discussão e um aprofundamento cognitivo que supera os objetivos deste artigo, ilustra claramente que o processo de tomada de decisão na busca de uma solução a um problema constitui-se necessariamente em um processo de aprendizado. Uma boa solução, especialmente se a procura for por uma solução criativa e inovadora, só poderá ser obtida ao se atingir a sexta e última etapa deste processo de aprendizagem.

Este processo também ilustra por que que jamais deixamos de aprender e que, quanto mais aprendemos, maior é a consciência do pouco que sabemos. O oposto disto, confirmado nas experiencias diárias, é a arrogância de quem acredita já ter aprendido tudo o que precisa, fruto da falta de consciência deste processo todo, não só do processo de aprendizagem, mas, do processo que nos leva à tomada de decisão.

O fato de sabermos que sempre saberemos muito pouco, mesmo sendo considerados especialistas em determinados temas, não pode nos levar à paralisia e à omissão. Somos obrigados a tomar decisões todo dia e a toda hora. Adquirir consciência das limitações não se constitui numa fraqueza, muito pelo contrário, deveria ser uma virtude, um fator de sucesso.

É esta consciência, a do reconhecimento das limitações cognitivas que devemos superar ao nos engajarmos num processo de tomada de decisão, que nos obriga, se quisermos melhorar a eficácia e a eficiência deste processo, a aprender a usar ferramentas, metodologias e a tecnologia como mecanismos auxiliares para o necessário processo de análise que precede à tomada de decisão.

Perfil do Autor

Cristian Welsh Miguens
Cristian Welsh Miguens
Sócio Diretor da IRON Consultoria

Foi Presidente do IBCO-Instituto Brasileiro dos Consultores de Organização e Delegado diante do ICMCI; é sócio Diretor da IRON Consultoria; foi Professor da Escola de Negócios da Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo.

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Sócio Diretor da IRON Consultoria Foi Presidente do IBCO-Instituto Brasileiro dos Consultores de Organização e Delegado diante do ICMCI; é sócio Diretor da IRON Consultoria; foi Professor da Escola de Negócios da Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo.